Cursos
e Eventos
Evento
de Extensão: II Simpósio Antigos e Modernos -
UFPR: “Caminhos da alteridade: o outro na religião,
na história, na literatura”
Resumos: Índice
O curso está dividido
em cinco tópicos: os três primeiros propõem
uma visão panorâmica da escrita cuneiforme, das
línguas mesopotâmicas e da história dos
deciframentos; o quarto trata da formação dos
escribas, da pedagogia e da realidade escolar; o quinto apresenta
a diversidade de composições literárias,
como epopéias, mitos, hinos religiosos, textos mágico-medicinais.
Leitura e análise de alguns exemplos da Literatura
Mitológica: Enûma Eliš, O Poema de Erra,
A Epopéia de Gilgameš, Atra-hasîs e Inanna
e Šukaletuda.
Poetas e filósofos:
“outros” privilegiados no discurso historiográfico
Profa.
Dra. Sandra Lúcia Rodrigues da Rocha (UnB)
TERÇA-FEIRA (04/11)
O discurso da prosa historiográfica
grega no século V se constrói numa dialogia
constante com outros discursos que se propõem a contar
uma verdade ou que, por tradição, sejam considerados
como portadores de verdades históricas, ou que abordem
determinado tema sob critérios de rigor e exatidão.
Tais relações dialógicas se conformam
às vezes pela correção, às vezes
pela afirmação que o autor faz sobre o que outros
tenham dito, como ocorre com o dizer dos poetas e, às
vezes mais indiretamente, com o dos sofistas. Nessa sistemática
referência ao dizer do Outro, ora explícita,
ora sugerida, é que se vai tecendo a identidade e a
distinção do historiador grego como o portador
ou manipulador de uma verdade esclarecedora, resultado da
análise da(s) sociedade(s), em relação
às outras vozes correntes. Minha conferência
tratará basicamente das formas diretas e indiretas
por meio das quais Heródoto e Tucídides operam
essa distinção individual em seus discursos
com relação à voz dos poetas –
especialmente de Homero – e dos filósofos sofistas
– particularmente Antifonte e Górgias.
TERÇA-FEIRA
(04/11)
Nesta comunicação,
pretendo olhar para o gênero literário como uma
das instâncias do aspecto criativo da linguagem (também
chamado de "caráter ativo da linguagem na construção
da imagem da realidade" ou "atividade constitutiva")
como definido por Wilhelm von Humboldt, Adam Schaff, Ernst
Cassirer, George Steiner e Carlos Franchi. Para esse conjunto
de visões, a linguagem permite transgressões
de limites impostos pelas visões tradicionais das teorias
que tratam a linguagem como mero reflexo da realidade objetiva.
Além disso, o aspecto criativo permite uma espécie
de auto-regulação da linguagem, através
do alargamento de seus próprios limites. O trabalho
literário, especialmente quando visto sob a ótica
das teorias dos gêneros (seguirei as posições
de Bakhtin), se dá de modo análogo ao da linguagem
ordinária. Assim, olharei para o gênero enquanto
molde que se refaz e se expande através do caráter
ativo da linguagem literária na construção
de mundos de alteridade e transgressão de convenções
de gênero. Isso será feito especialmente pensando
no modo como o gênero da Comédia Nova grega recebe
novas conformações ao ser implementado em Roma
no período de Plauto e Terêncio. Analisarei os
afastamentos do molde genérico da comédia grega
para fins cômicos neste gênero, pensando ao mesmo
tempo na discussão que Bakhtin faz acerca dos gêneros
sério-cômicos.
O 'Modo
romano' de traduzir: apropriações romanas na história
da tradução
Álvaro Kasuaki Fujihara (Mestrando em Letras –
UFPR)
TERÇA-FEIRA
(04/11)
Embora eventualmente se tome
Cícero como fundador do pensamento ocidental sobre
tradução, o próprio Cícero não
se apresenta como alguém inovador - pelo contrário,
boa parte de seu argumento vai no sentido de se vincular a
uma tradição já estabelecida (De Optimo
Genere Oratorum). Dentre os nomes citados por Cícero
como pertencentes a essa tradição encontra-se
o nome de Terêncio, autor que apresenta uma reflexão
assaz interessante sobre um tema que em muito se relaciona
à tradução, se não pudermos dizer
que se trata mesmo de tradução, e que em vários
aspectos antecipa preocupações ciceronianas.
No século XVII, D’Ablancourt aponta Cícero
e Terêncio como exemplos do que seria o procedimento
ideal de tradução, vinculando-se, de certa forma,
à essa tradição, de que faria parte também
Horácio. Também Nietzsche no século XIX
se refere a um certo procedimento comum que ele identifica
como tipicamente romano, no que concerne ao modo de se apropriar
de e traduzir autores gregos. O presente trabalho pretende
analisar o modo como autores posteriores fazem uso das reflexões
desses autores romanos, concentrando-se especialmente em Terêncio
e Cícero e na forma como esses autores aparecem na
história das reflexões sobre tradução.
Retórica
da Sedução em Górgias e Aristóteles
Joseane Prezotto (Mestranda em Letras – UFPR)
TERÇA-FEIRA
(04/11)
Meu intuito é apresentar
uma leitura do Elogio de Helena de Górgias de Leontinos
em comparação com os capítulos 1 a 11
do livro II da Retórica de Aristóteles. Nesta
comparação, busco caracterizar os artifícios
retóricos de Górgias dentro da visão
aristotélica do orador enquanto agente de ‘paixões’,
procurando semelhanças e divergências no tratamento
dado às emoções pelos autores.
Releituras
de Épica: Gênero, Tradução e Criação
Luana de Conto (Graduanda em Letras UFPR , bolsista do CNPq)
TERÇA-FEIRA
(04/11)
Este trabalho põe em
discussão o gênero épico, um gênero
marcadamente ligado a uma temática histórico-nacional.
Relacionando gregos e romanos, são focalizados os poemas
homéricos e também a épica virgiliana.
Procura-se discutir também como estes poemas chegaram
até nós, em especial no que diz respeito às
suas traduções mais conhecidas – a versão
de Odorico Mendes e a de Carlos Alberto Nunes. Lança-se
ainda um olhar para a tentativa de produção
épica deste último tradutor, que lançou
mãos à obra de produzir um poema épico
brasileiro, intitulado Os Brasileidas.
A metamorfose no
romance latino: entre homens, lobisomens e asnos
Profa.
Dra. Sandra M. G. B. Bianchet (UFMG)
QUARTA-FEIRA (05/10)
As duas únicas obras
de ficção em prosa no universo da literatura
latina – Satyricon de Petrônio e Metamorphoseon
ou Asinus aureus de Apuleio –, se estruturam de modo
a incluir, na linha diegética central, uma série
de histórias curtas, que envolvem a utilização
de temas semelhantes: são episódios de cunho
erótico e de feitiçaria e magia. Nesses passos,
o foco narrativo é transferido do narrador autodiegético
para um personagem secundário, que assume a vez e a
voz da narrativa. O narrador em primeira pessoa, que apresenta
suas próprias aventuras, transforma-se, pois, em ouvinte
das aventuras alheias, as quais ele reproduz como citação,
mantendo a 1a pessoa – ou seja, muda-se o ‘eu’
da narrativa. Especificamente em relação a episódios
de feitiçaria e magia, tem-se como tema principal a
metamorfose, a transformação em outro ser por
obra das artes mágicas. A transfiguração
no outro está presente no Satyricon mais especificamente
no grupo de episódios da Cena Trimalchionis, quando
o anfitrião convoca um de seus amigos a contar uma
história fantástica, para, logo em seguida,
ele próprio contar uma outra história maravilhosa
(Sat. 61-63). No Asinus aureus a inserção de
histórias breves configura-se como uma estratégia
discursiva de uso mais recorrente; além disso, as histórias
inseridas apresentam uma conexão mais direta com a
narrativa principal da obra, já que o tema da magia
é o motus da narrativa de Lúcio: literalmente,
é o que coloca o narrador em movimento e desencadeia
toda a série episódica por ele desenredada.
Para além do objetivo declarado pelos autores de deleitar
os ouvintes/leitores através dessas histórias
breves, interessa aqui analisar a inserção de
contos como um dos elementos essenciais da composição
e estruturação do gênero ‘romance’
em sua origem.
QUARTA-FEIRA
(05/10)
A proposta desse trabalho se
assenta nas questões seguintes: como o aspecto o aspecto
religioso é enfocado em obras romanescas e qual sua
função; como o discurso religioso interfere
na concepção do gênero romanesco na Antiguidade.
Na perspectiva de propor um direcionamento para essas questões,
vamos utilizar como referencial para nossa análise
algumas concepções sobre o fenômeno religioso
que relevam de várias obras de Luciano de Samósata,
quer nos diálogos, quer nas obras biográficas,
quer nas narrativas romanescas. Num tipo de relato biográfico,
assinado e em forma epistolar, a intenção de
Luciano é, de certo modo, promover uma mímesis
(no sentido aqui de uma refiguração crítica)
de relatos de bíoi, na qual se encena a ação
moral de uma figura que, a exemplo de Peregrino, sincretiza
ou justapõe adesão filosófica e crença
religiosa. Enquanto em algumas obras luciânicas, a conversão
a uma corrente filosófica diz respeito a um páthos
no discurso, em obras cristãs romanceadas, a encenação
do páthos da escolha religiosa está vinculada
a um discurso de caráter testemunhal e que versa, de
uma forma ou de outra, sobre prodígios. Dessa forma,
tratamos nesse trabalho de delinear a constituição
desse páthos do discurso em obras, pagãs e cristãs,
em que o aspecto religioso é o traço direcionador
e catalisador da narrativa.
QUARTA-FEIRA
(05/10)
A presente comunicação
tem por objetivo um diálogo interdisciplinar entre
História e Literatura Clássica. Partindo da
noção que as sátiras têm cada vez
mais atraído os historiadores para um estudo mais plural
do mundo romano, a idéia central é explorar
a potencialidade da obra de Petrônio para uma análise
das camadas populares romanas e, conseqüentemente, da
construção do outro no cotidiano do Alto Império.
QUARTA-FEIRA
(05/10)
Esta carta, em grego, foi enviada
da Gália às igrejas da Ásia e Frígia,
sobre a perseguição ocorrida em Lião
(177), está conservada da História Eclesiástica
de Euzébio. Constitui admirável documento do
espírito dos antigos mártires, transcende em
importância, razão pela qual se procura demonstrar
que nenhum estudo da Igreja pode ser completo sem a discussão
das Atas dos primeiros mártires. Há muito, eruditos
têm confiado na monumental coleção destes
Atos do marista T. Ruinart, e sua Acta primorum martyrum (1689);
e na grande coleção de vitae e passiones dos
Jesuítas, Antwerp (1643), J. Bolland. Porém,
não é muito grandiosa a tarefa de justificar
a necessidade de novas edições críticas
e traduções para os Atos e Relatos de Martírio,
ferramentas tão necessárias a todos os estudantes
do império romano e da história do cristianismo
primitivo. As pesquisas em grego e latim amplamente dispersas
neste gênero, e a existência de diferentes recensões
adicionais tornam delicado o surgimento de alguma edição;
comentários e traduções são esparsas,
ou não existem. Na literatura martirológica,
o autor abarca questões como as nomenclaturas Ata,
Paixão-Martírio e Lenda, que tratam da prisão,
do processo e execução; também que sociedade
e religião estiveram fundadas no mecanismo do bode
expiatório e na possibilidade de sua repetição
simbólica no rito sacrifical até o advento do
Cristianismo, quando o mecanismo sacrifical é revelado
e inutilizado. Doravante o conflito mimético, em vez
de mediatizado pela coletividade, é apresentado à
consciência, onde adquire sentido moral e ascético.
O que diferencia o Evangelho dos mitos antigos, ou do mito
como tal, é a revelação cristã
acerca da inocência da vítima e da culpa da coletividade
homicida. Os relatos de martírio registram o momento
em que se dá o embate civilizacional entre a ordem
sacrifical e a ordem cristã, do qual não por
acaso o Cristianismo sai vitorioso na exata medida em que
abdica da guerra. Até o final do séc. II cerca
de 80 mil cristãos foram mortos, e como declarara Tertuliano:
“o sangue dos mártires é semente de cristãos”.
Além da análise crítico-literária,
das questões de gênero e aspectos históricos
deste martírio, o escopo será a tradução
bilíngüe a ser apresentada a partir de uma edição
crítica.
A alteridade
no discurso romanesco na Ciropedia de Xenofonte
Vinícius Barth (Graduando em Letras UFPR, bolsista do
CNPq)
QUARTA-FEIRA
(05/10)
A Ciropedia, obra ao mesmo
tempo biográfica e ficcional, trata da educação
de Ciro, notável imperador persa. Aqui, tanto o contexto
biográfico como o contexto romanesco, que se misturam
invariavelmente, servem de pano de fundo para o elogio ao
modelo educacional - Paidéia - proposto por Xenofonte.
A análise desta apresentação se dará
especificamente à presença da personagem Panteia
e suas relações com Ciro, Araspas e Abradatas.
Os trechos relativos à presença da princesa
revelam os discursos mais fortemente ficcionais dentro da
obra, o que culmina em uma construção erótica
e psicológica refletida nos personagens citados e distanciam
Xenofonte de uma possível fidelidade histórica
dos fatos.
A Filosofia
Cínica em discurso com o Hades luciânico
Priscila Buse (Graduanda em Letras UFPR, bolsista do CNPq)
QUARTA-FEIRA
(05/10)
A obra de Luciano de Samósata
exerce uma crítica cáustica sobre o mundo e
seus atuantes. É desse universo que avulta uma valorização
pelos tipos sociais – os ricos, os belos, os poderosos,
os filósofos, os aduladores – que, para além
de universais e conformes aos grandes modelos literários
do passado, têm uma dimensão objetiva no mundo
que envolve o autor. Em Diálogos dos Mortos temos a
utilização do Hades como cenário para
o eterno exercício de análise da figuração
do outro. Ali, distanciada do mundo dos vivos, onde prevalecem
leis desiguais, a crítica se liberta das dúvidas
que resultam da própria limitação do
juízo humano, se cobrindo de licitude e certeza, e
podendo, desse modo, assumir a forma sarcástica, presente
no discurso cínico. Assim, a Filosofia Cínica
assume, em Luciano, características de ideal. A ela
cabe o papel de deflagradora dos vícios e enganos humanos,
das injustiças e inconformidades que davam o tom à
vida de outrora. É em grande medida na voz da personagem
Menipo – em vida, fundador da Escola Cínica –,
que Luciano evidencia o absurdo da existência. Por ter
praticado uma vida correta, se abstendo dos bens materiais
e dos prazeres ilusórios do mundo, o cínico
quando chega ao Hades, possuiu a clarividência e a autoridade
para criticar e mesmo ridicularizar o outro. Dessa forma,
a censura à sociedade é ostensivamente posta
nos diálogos estabelecidos entre Menipo e as demais
personagens, tenham elas sido em vida, ricos, heróis,
grandes filósofos, como Sócrates, ou mesmo aqueles
que aspiraram à qualidade de semi-deus como Alexandre.
Sobre
asnos e escravos: notas sobre a imagem do escravo nas Metamorfoses
de Apuleio
Beatriz Ávila Vasconcelos (Doutoranda na Universidade
de Humbold, Berlim)
QUARTA-FEIRA
(05/10)
Escravos são presença
constante nas Metamorfoses de Apuleio. Eles têm um papel
importante, tanto na ação quanto na ambientação
social deste romance, o que fez com que ele fosse prezado
como fonte por diversos estudiosos da escravatura antiga.
Mas o mundo da escravatura marca a obra também em níveis
mais sutis. Já no plano lingüístico expressões
e termos próprios da escravatura são utilizados
metaforicamente para descrever, por exemplo, relações
amorosas, a submissão de um devoto a seu deus, a condição
de um animal sob a posse de seu dono. Também o protagonista
e narrador do romance, o jovem aristocrata Lucius, deixa-se
facilmente interpretar como um símile grotesco da servidão
humana: transformado por magia em um asno, ele sofre nesta
condição os piores trabalhos e maus-tratos,
passa das mãos de um senhor a outro e faz incansáveis
tentativas de fuga. Do mesmo modo, sua re-humanização
pela graça de Isis e sua iniciação nos
mistérios da deusa são descritos em termos semelhantes
aos de uma alforria romana (manumissio). A interpretação
da figura do asno Lucius como um símile do escravo
é o tema da presente comunicação. O objetivo
é mostrar em que medida essa criação
literária do asno-escravo no romance apuleiano corresponde
alegoricamente a uma representação social do
escravo como gênero sub-humano, o qual, no imaginário
antigo, sempre esteve associado aos animais de trabalho. Espera-se
com isso ressaltar o papel da literatura ficcional de conferir
ao fenômeno social e econômico da escravatura,
estrutural no mundo greco-romano, também uma dimensão
simbólica.
Musicistas, poetisas
e artesãs na Grécia antiga: reflexões
sobre a alteridade feminina no mundo do trabalho e na vida
intelectual e artística
Prof.
Dr. Fábio Vergara Cerqueira (UFPEL)
QUINTA-FEIRA (06/11)
O conceito de alteridade pode
estar a serviço da reflexão sobre vários
temas de estudo, um deles é a questão de gênero.
Abordaremos aqui o "outro feminino", propondo um
desenvolvimento ao tema que se insere na revisão em
curso, desde meados dos anos 1990, sobre a condição
da mulher na Grécia antiga. Abordaremos aqui aspectos
relativos à participação de mulheres
no mundo do trabalho e na vida intelectual e artística,
analisando de forma cruzada evidências iconográficas
e literárias. Esse "outro feminino" poderá
ser encarado de duas formas: o outro com relação
à mulher antiga tipificada na literatura histórica
do século XX ou o outro com relação à
ideologia misógina hegemônica na pólis
grega. O estudo acerca das musicistas, poetisas e artesãs
é desafiante, pois não somente permite colocar
em cheque alguns axiomas sobre os estudos de gênero
no Mundo antigo, mas nos permite igualmente verificar situações
cotidianas que desafiam um modelo social dominante, que propugnava
a completa exclusão feminina. Partindo da iconografia,
propomos considerar sob uma nova perspectiva algumas evidências
reportadas pela tradição literária, cujas
implicações não têm sido devidamente
valorizadas nas narrativas históricas sobre a mulher
na sociedade grega antiga: este o caso das referências
imagéticas e literárias a oleiras, vendedoras
de óleo, coletoras de frutas, tecelãs, poetisas,
professoras, musicistas.
QUINTA-FEIRA
(06/11)
A partir de um perspectiva
ambígua de leitura do genêro elegíaco
romano, pretendo fazer a análise de uma elegia (IV,
4) em que Sexto Propércio renarra o famoso mito da
traição de Tarpéia, seguindo uma versão
pouquíssimo usual da tradição. Assim,
pela mudança de posição subjetiva, uma
vez que o poema se apresenta na primeira pessoa da própria
Tarpéia, podemos fazer uma releitura da representação
mulher, eterno Outro das sociedades patriarcais, no mundo
romano do começo do Império, bem como apontarmos
até que ponto a poesia de Propércio é
capaz de fugir desse lugar comum.
QUINTA-FEIRA
(06/11)
Partindo de trechos selecionados
da Ilíada e da Odisséia, de Homero, e da Teogonia
e dos Trabalhos e Dias, de Hesíodo, pretendo mostrar
que existia uma ambigüidade fundamental na maneira como
os gregos construíam a imagem da música e dos
músicos. Por um lado, a música era algo que
tinha origem divina e que estava intimamente ligado a divindades
que ocupam um lugar central no panteão e na mitologia
dos antigos gregos. Contudo a atividade do músico era
mal vista e tratada como algo pejorativo, indigno de alguém
nobre, mesmo que em alguns momentos pessoas da aristocracia
apareçam tocando um instrumento musical. Depois de
demonstrar a existência dessa ambigüidade, pretendo
propor uma explicação para esse fato, com base
na maneira como os gregos tratavam a ‘profissão’
do músico-poeta.
Análise
de imagens em artefatos: um conjunto de categorias
Silvia Moras (Graduanda em Belas Artes)
QUINTA-FEIRA
(06/11)
Por meio de algumas das categorias
de análise de imagens tomadas do campo da arte, desenvolvidas
por Rudolf Arheim em Arte e Percepção Visual,
são buscadas as evidências da presença
do Oriente na produção cerâmica grega
de figuras negras com temática de animais, do período
orientalizante ( séc VIII e VII a.c) e arcaico (séc
VI e V a.c.), de Corinto e Atenas respectivamente. Comparando
artefatos do Levante e Egito na antiguidade aos vasos cerâmicos
gregos daquele período, se poderá ter em mãos
possíveis evidências que servirão de fundamentação
para um debate com historiografias do séc XIX e XX,
as quais teriam omitido ou subestimado as influências
do Oriente na formação da cultura grega antiga.
A partir desta Grécia branca e culturalmente homogênea,
teria se estabelecido a identidade do Ocidente dissociada
do Oriente, idéia a ser revista, tomando como apoio
o trabalho desenvolvido pelo norte americano Martin Bernal
em sua obra Black Athena: the afroasiatic roots of classical
civilization. Apreendendo aspectos de pluralidade cultural
da Grécia Antiga, ou seja, que inclua as influências
da cultura do Egito, Fenícia e Mesopotâmia, a
noção de origem da cultura grega se delineia
de maneira mais complexa e rica. Questiona-se a concepção
de uma Grécia branca milagrosamente auto concebida,
ou melhor, assim concebida estrategicamente para servir a
propósitos imperialistas do século XIX, um século
racista por excelência segundo Bernal. O tão
conhecido "legado" grego teria sido apreendido nos
baús dos países europeus colonizadores, como
garantia de justificativa para sua pretensa superioridade
cultural, afinal herdada dos gregos. A Grécia recortada
e colada teria sido a imagem da infância da Europa,
enquanto que o Oriente representaria, segundo Edward Said
em sua obra Orientalismo, a imagem do Outro por excelência.
Panathenaia:
imagens de um festival
Camilla Miranda Martins (Graduanda em História, bolsista
IC CNPq/PIBIC)
QUINTA-FEIRA
(06/11)
O Festival das Panathenaias
ocorria todo início de ano no calendário Ático,
desenvolvia-se em Atenas e tinha por objetivo reforçar
a identidade dessa pólis por meio da religiosidade.
Dentre as diversas atividades da festa existiam as competições
atléticas e de hipismo, que no Período Clássico
possuíam como premiação ânforas
contendo azeite de oliva e decoradas com imagens tanto das
competições como de Atena Promachos, Atena deusa
guerreira. E a partir dessas representações
pretende-se discutir a relação entre a esfera
mitológica e religiosa e a festividade cívica
que eram as Panathenaias.
Jean
León Gérôme: a reconstrução
da Antiguidade a partir da pintura
Fabrícia Minetto (Graduanda em História)
QUINTA-FEIRA
(06/11)
As discussões desta
pesquisa centram-se na forma como a Arqueologia trouxe ao
campo da Arte uma nova visão do passado, em suas relações
com o presente, que buscaram construir uma noção
de identidade. Nesta perspectiva destacam-se as pinturas do
artista francês do século XIX, Jean-Léon
Gérôme. As três pinturas selecionadas para
a pesquisa são imagens do Coliseu e fazem parte de
uma série de obras produzidas durante as escavações
do Coliseu. O artista mantém uma forte relação
com a Arqueologia, declara a importância desta, para
tornar sua pintura mais verossimilhante com o passado. Expõe
várias de suas obras em salões de arte. Desta
forma, criam-se memórias que ajudam assegurar e definir
uma identidade com o passado. O olhar de um francês
para um passado que é Romano pode ser interpretado
como uma forma de recuperar a memória de Roma, num
momento em que se faz necessário estabelecer uma política
nacional francesa, de preservação e recuperação
do patrimônio cultural, de reformulação
e reafirmação da identidade nacional. Neste
sentido, busca-se explorar como as relações
de poder entre Estado e as diferentes instituições,
mediadas pela Arte e Arqueologia, como estas ajudam na definição
e construção do eu em oposição
ao outro.
Historiografia
e Sátiras - um diálogo possível
Lorena Pantaleão da Silva (Graduada em História)
QUINTA-FEIRA
(06/11)
A pesquisa aqui apresentada
iniciou-se como uma tentativa de elaborar um estudo sobre
a situação feminina em Roma no Apogeu do Império,
a partir da obra de Petrônio, Satyricon. Assim, a partir
da Categoria Analítica de Gênero, buscamos evidenciar
a pluralidade de figuras femininas deste período. Isto
porque é relativamente recente o interesse da historiografia
em estabelecer pesquisas sobre tal grupo, especialmente nos
trabalhos voltados à Antigüidade Clássica.
Em geral este “silêncio” do feminino por
parte de alguns pesquisadores é justificado pela falta
de fontes que possibilitem o estudo das mulheres romanas.
Neste sentido, destacamos o papel essencial da literatura
satírica, em diversos momentos desconsiderada pelos
pesquisadores como uma fonte histórica devido a sua
especificidade. Destacamos que para a elaboração
da análise do Satyricon, de Petrônio, aqui apresentada
foi essencial o diálogo constante entre Teoria de Gênero,
Teoria Literária e a Historiografia referente ao período,
além do estudo da língua latina. Finalmente,
acreditamos que esta análise interdisciplinar tende
a enriquecer as pesquisas históricas referentes ao
objeto de estudo apresentado.
Ocidente,
o Outro de Bizâncio. O olhar bizantino de Ana Comena sobre
o Ocidente através de "A Alexíada"
Fábio Lins (Graduado em Letras pela UFRJ)
QUINTA-FEIRA
(06/11)
A civilização
que nos acostumamos a chamar de Império Bizantino representou
uma outra via possível de realização
da herança greco-romana e judaico-cristã. Durante
eras, desde Carlos Magno e passando especialmente por Hieronymus
Wolf e Montesquieu, o ?as??e?a ??µa???, Império
Romano, foi descaracterizado de sua romanidade como parte
do processo de formação de identidade da civilização
que hoje chamamos de Ocidental. Nesta breve comunicação
desafiaremos os participantes a mudarem o ângulo de
visão e verem o Ocidente desde o ponto de vista do
Basiléia Romaíon, através dos eruditos
olhos da primeira historiadora de relevo da humanidade, a
princesa constantinopolitana Ana Comena em sua grande obra
"A Alexíada", na qual, testemunha entre outros
eventos, a Primeira Cruzada.
James Joyce e o romance
como forma de instituir um Outro
Prof.
Dr. Caetano Waldrigues Galindo (UFPR)
SEXTA-FEIRA (07/11)
Se a linguagem romanesca (Bakhtin)
é por excelência o terreno da representação
e do convívio de discursos vários, mediados
que são, num processo que apenas acrescenta níveis
e complexidade a esse convívio, pela ambígua
presença da figura de transição entre
o literário e o criado que é o narrador, James
Joyce pode representar em seus três romances uma síntese
perfeita dessa idéia e desse caminho. Através
da novamente ambígua persona de Stephen Dedalus (poeta
e personagem, personagem e preposto do autor), Joyce nos oferece,
entre Um retrato do artista quando jovem e Ulysses uma trajetória
que, primeiro, estabelece um eu devidamente problematizado
por seu próprio lugar instável e, depois, gradativamente
o coloca em contato com outros eus e outros mecanismos de
convívio. Além disso, na segunda metade do Ulysses
esse processo começa a ser vigorosamente questionado
a partir de um ponto de vista talvez metaliterário,
que levará a uma conclusão incrivelmente poderosa
e belíssima no ultra-romance que será o Finnegans
Wake. Esse processo de aceitação da incorporação
do outro pode ser a síntese da experiência romanesca,
ou da experiência humana em ao menos um sentido muito
importante.
SEXTA-FEIRA
(07/11)
Publicado em 2001, o álbum
As meninas reúne reproduções das pinturas
de Paula Rego (1935) e textos de Agustina Bessa-Luís
(1922). Na longa lista das obras agustinianas, essa poderia
tanto estar na série das biografias como na dos textos
que tratam de imagens, que não são poucos. Interessa
analisar no texto de Agustina as marcas de sua subjetividade
ao interpretar as pinturas de Paula Rego, pois ao fazê-lo
associa as pinturas com biografemas da pintora, com quem estabelece
uma relação de identidade. Como se sabe, isso
acontece igualmente em outros textos, nomeadamente em Longos
dias têm cem anos – presença de Vieira
da Silva, de modo que é possível estabeler uma
certa poética das biografias da autora.
SEXTA-FEIRA
(07/11)
A busca da inclusão/exclusão
do Outro a partir da historiografia nos leva a considerar
caminhos temporais na relação Mesmo/Outro. Na
Modernidade do início do século XX, a cultura
urbana acentua o caráter do Outro próximo, muito
próximo. Essas considerções temporais
nos auxiliam a repensar historicamente a questão.
Formas
radicais de alteridade: a ficção científica
de H. G. Wells
Prof. Dr. Vidal Antonio Azevedo Costa (UFPR)
SEXTA-FEIRA
(07/11)
Dentro da proposta de trabalhar
a alteridade, uma das formas literárias mais prolíficas
é a da ficção científica, na qual
a figura do Outro é habitualmente presente, seja como
elemento de conflito ou de autoconhecimento, uma figura que
pode funcionar como instrumento para explorar nossos medos
ou as falácias de nossas aspirações e
ainda servir como espelho invertido no qual o autor pode revelar
seu olhar diante da humanidade. Tanto no formato da crítica
ou sátira, na aventura ou no drama, os textos de ficção
também desfrutaram de uma liberdade que lhes outorgava,
pelo viés da narrativa fantasiosa, do direito de abordar
temas que outros gêneros ignoravam ou receavam abordar.
Nesse sentido, a figura do Outro na ficção científica
serviu como árbitro da natureza humana, desvelando-a
diante de um leitor que, de outro modo, estava por demais
submerso em sua própria realidade para poder reconhecê-la
sem esse artifício. Entre os muitos autores que utilizaram
esse processo em suas criações, selecionamos
um dos pais da ficção científica, H.G.
Wells, como objeto dessa apresentação –
que se voltará a três de seus trabalhos –
A Máquina do Tempo, O Homem Invisível e A Guerra
dos Mundos.
A morte
da narrativa através do duplo
Prof. Dr. Vinícius Berlendis Figueiredo (UFPR)
SEXTA-FEIRA
(07/11)
Com Dr Jekill e Mr. Hyde, Robert
Louis Stevenson tornou-se conhecido com um dos mais polulares
clássicos da literatura moderna. A obra tornou-se célebre
e foi adaptada diversas vezes para o cinema. Retornar a ela
e a seu exame literário, contudo, é oportuno,
uma vez que, através do depoimento de Dr. Jekill, é
não apenas a natureza dupla do homem o que está
em pauta, mas, especialmente, a própria condição
da narrativa de retratá-la adequadamente.
SEXTA-FEIRA
(07/11)
O teólogo suíço
Hans Küng (*1928), professor emérito da Universidade
de Tübingen, Alemanha, autor de dezenas de livros de
grande visibilidade internacional, propôs a partir de
1990 o assim chamado "Projeto de ética mundial".
Esse projeto ganhou especial importância a partir do
Onze de Setembro de 2001. Küng foi convidado pela ONU,
por exemplo, a participar de um conselho de notáveis
que discutiria os limites e possibilidades do novo cenário
internacional. A comunicação apresentará
as idéias centrais do projeto, cuja execução
se dá por diversas publicações e pela
atuação institucional da Fundação
de Ética Mundial, com sede em Tübingen, e refletirá
sobre as noções de alteridade aí implícitas.
SEXTA-FEIRA
(07/11)
Pretendo discutir neste trabalho
o papel do pathos do enuciatário na constituição
do ethos do enunciador, segundo a caracterização
que tais conceitos recebem nas recentes teorias do discurso,
a partir de sua caracterização retórica
clássica. Focalizarei três momentos da constituição
discursiva de um ethos gaúcho: no manifesto separatista
de Irton Marx (analisado por D. P. de Barros); nas piadas
de gaúcho (analisadas por S. Possenti); e, finalmente
no manifesto estético de Vitor Ramil, A Estética
do Frio. O trabalho busca delimitar a forma como se dá
a constituição de um ethos autoral nos três
diferentes casos, a partir da assunção consensual
de um simulacro do gaúcho que circula socialmente.
SEXTA-FEIRA
(07/11)
No filme Caché, dirigido
por Michael Haneke, a discussão acerca dos limites
entre realidade objetiva e representação artística
é articulada à problemática da identidade
num exercício cuja função é tensionar
os limites entre o real e a ficção, entre o
próprio e o outro. Aqui, nenhuma fronteira é
respeitada, obrigando-se o espectador a refletir sobre o que,
afinal, significa a máxima acerca de uma imagem valer
mais do que mil palavras.
Refiguração
de personagens gregas na obra de Agustina Bessa-Luís
Edenílson Mikuska (Mestrando em Letras – UFPR)
SEXTA-FEIRA
(07/11)
Este trabalho tem por objetivo
examinar de que forma se dá a apropriação
do relato biográfico de personagens históricos
pelo discurso romanesco em Ordens Menores (1992), da ficionista
portuguesa Agustina Bessa-Luis; nesta obra, com efeito, a
relação entre o professor Natan e Luis Matias
aparece como refiguração da relação
entre as figuras históricas de Sócrates e Alcibíades.
SEXTA-FEIRA
(07/11)
Uma das vertentes das Epistulae
morales ad Lucilium é o ensinamento de exercícios
espirituais destinados ao aperfeiçoamento moral do
destinatário. Em conexão com tais exercícios
encontramos um tema recorrente: o de diversos “outros”
que vivem ou podem viver em nosso interior e lá desempenham
o papel de companheiros, testemunhas, ou mesmo juízes.
Assim aparecem as figuras da conscientia (como em epist. 43.4-5),
da divindade que vive em nós e tudo vê (83.1),
ou de personagens históricas que tomamos como modelos
e passam a se relacionar conosco no plano da imaginação
(11.8-10). Nota-se também nas Cartas a presença
constante do discurso citado (como em 7.10), de interlocutores
anônimos (9.9), de réplicas imaginárias
representando possíveis objeções ou perguntas
de Lucílio (2.4), ou de citações de palavras
que o próprio Sêneca teria pronunciado ou pensado
em outras ocasiões (8.3-5). Tais procedimentos estilísticos
sugerem que o problema do “outro” interiorizado
manifesta-se não apenas como temática da correspondência
entre Sêneca e seu pupilo: as Cartas já são
também um exercício de meditação
cum dialogo, e nelas diversas instâncias de alteridade
dão a Sêneca a oportunidade de confrontar suas
idéias com pontos de vista diferentes do seu. As Epistulae
morales se oferecem como uma obra em que os limites tênues
entre o diálogo e o solilóquio são ao
mesmo tempo discutidos e dramatizados. A tensão e o
magnetismo entre esses pólos (a conversa e o monólogo)
se traduzem também nos debates, freqüentes nas
Cartas, sobre os prós e os contras de se estar com
os outros ou unicamente consigo mesmo.
|