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IV Simpósio Antigos e Modernos - UFPR: Diálogos

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Resumos (por ordem alfabética de nomes)

Conferências e Palestras

Mini-curso

Comunicações


Conferências e Palestras

Alessandro Rolim de Moura (UFPR): Recepção de Estácio e Lucano no De Gestis Mendi de Saa

O poema latino sobre os feitos de Mem de Sá, atribuído pela maior parte dos especialistas a José de Anchieta, é uma obra única no contexto do Renascimento em sua versão ibero-americana. Há no texto uma confluência de perspectivas diversas: o engajamento de fundo jesuítico, a observação sensível do Novo Mundo, o discurso épico clássico. Os estudos sobre a presença da epopeia antiga no De gestis, todavia, restringem-se quase só à influência de Vergílio. Admitindo que este último é uma matriz inegável, minha pesquisa investiga também os ecos de Lucano e Estácio no poema. Parece-me que o épico moderno faz uso desses dois autores latinos para alimentar os aspectos pessimistas de sua narrativa romano-brasileira. Discuto essa recepção da Guerra civil e da Tebaida sobretudo através de dois motivos importantes que se manifestam nas obras em questão. Designo esses motivos com as expressões latinas belli amor e immanes tigres.

Anamaria Filizola (UFPR): Sócrates e Alcibíades personagens de Agustina Bessa-Luís

Publicado em 1992, Ordens menores, da ficcionista portuguesa Agustina Bessa-Luís (1922), é um romance peculiar em que Sócrates e Alcibíades são convocados como assunto de conversas e discussões entre o professor Natan e seu pupilo Luís Matias do Barral. No entanto, mestre e aluno, em meados do século XX, no norte de Portugal, espelham a dupla grega, ao mesmo tempo que o professor Natan é um personagem construído com inúmeros biografemas do escritor José Régio (1901-1969). Esta comunicação aborda a recepção e consequente figuração desses personagens do mundo clássico grego pela autora portuguesa.

Bernardo Brandão (UFPR): A imagem do filósofo na comédia e na filosofia grega

A imagem do filósofo grego, tal como nós a conhecemos, é fruto de um intenso debate intelectual na Atenas dos séculos V e IV que culmina nos diálogos platônicos. Platão, interessado em defender a filosofia contra as acusações de impiedade e as críticas da comédia (especialmente Aristófanes, mas também Êupolis, Amípsias e outros) , bem como diferenciá-la da sofística, usou o gênero dos diálogos socráticos para definir literariamente o filósofo e o seu ofício, realizando não apenas uma discussão teórica, mas criando um modelo de vida intelectual: o do homem que fundamenta sua vida na razão e, abrindo-se para as realidades que estão além do mundo sensível, cuida de sua alma e guia seus concidadãos nessa direção. Essa comunicação pretende analisar o projeto platônico da criação do modelo do filósofo a partir de seu diálogo com a comédia ateniense do século V e, em especial, com as Nuvens de Aristófanes.

Brunno Vinicius Gonçalves Vieira (Unesp – Araraquara/apoio FAPESP): A Farsália de José Feliciano de Castilho (1864): altiloquia e robustez de uma tradução esquecida

A tradução de José Feliciano de Castilho (1810-1879) dos cantos I, VI, VII e parte do X da Pharsalia, de Lucano, foi publicada em jornais do Brasil e de Portugal em1864. Desde então, jaz esquecida nos acervos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e do Real Gabinete Português de Leitura. O projeto tradutório de José Feliciano de Castilho mereceu o louvor de literatos brasileiros do porte de Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis e Sotero dos Reis, mas também de portugueses como Pinheiro Chagas, Antônio José Viale e Antônio Feliciano de Castilho. Tal ilustre recepção já mostra a importância da investigação e disponibilização desse texto, não apenas pelos valores intrínsecos da obra latina e da versão portuguesa, mas também para o estudo do ambiente literário dessa profícua época da literatura lusófona. Esta conferência pretende oferecer dados do contexto histórico e literário em que a tradução veio a lume, bem como apresentar questões de caráter filológico e tradutológico provenientes da edição e comentário – ainda em progresso – dessa versão de Lucano.

Fernando Nicolazzi (UFOP): O tempo do Sertão, o sertão no tempo: antigos, modernos e selvagens

O intuito desta conferência é apresentar uma leitura do livro de Euclides da Cunha, Os sertões, considerando a forma pela qual a diferença é nele representada. Parte-se da idéia de que a obra é construída segundo uma noção de distância de tempos que separa o tempo do sertão da temporalidade daquilo que o autor define como civilização. Nesse sentido, parte das estratégias discursivas utilizadas na feitura do livro trabalha segundo uma comparação entre antigos, modernos selvagens, de forma que a figura da alteridade se torne ali assimilável.

Guilherme Gontijo Flores: Épica, tragédia e lírica nas Argonáuticas de Apolônio de Rodes

Pretendo comentar a cena do encontro entre Jasão e Medeia, no livro III, para avaliar como o cruzamento de gêneros pode ser explicitado numa trama alusiva que exige do leitor o conhecimento de obras de outros gêneros (como a lírica de Píndaro e Safo e a tragédia de Eurípides) para além das fórmulas homéricas. Nesse choque genérico desvela-se pouco a pouco uma construção de desleitura irônica.

Irene Cristina Boschieiro

José Baracat Júnior (UFRS): Um fundamento para o tempo: uma resposta plotiniana a uma objeção de Heidegger e Borges

A reflexão de Plotino sobre a eternidade e o tempo é uma amostra notável de seu método exegético. Partindo da árida fórmula platônica - que define o tempo como imagem móvel da eternidade -, e sem abandonar esse âmbito conceitual, Plotino chega a conclusões próprias, originais e profundas. Sustentando a relação entre um arquétipo e uma imagem, ele transforma o tempo em vida da alma, imagem da eternidade que é vida do intelecto. Plotino e Platão, contudo, compartilham a convicção de que nossa compreensão do tempo só é possível se tomamos a eternidade como ponto de partida. Heidegger e, na sua esteira, o escritor Jorge Luiz Borges, denunciam o que lhes parece a fragilidade da concepção platônico-plotiniana do tempo: não se pode estabelecer, como fundamento de um fenômeno que nos é próximo, uma idéia que não tem significado concreto; portanto, como não temos experiência da eternidade, ela não pode ser o fundamento do tempo, que, este sim, nos é familiar, próprio à nossa existência mortal e finita. A intenção deste trabalho é buscar, na obra de Plotino, um fundamento para a compreensão do tempo (ou da temporalidade) que seja intrínseco à alma e que possa responder às objeções de Heidegger e Borges. Para isso, proporemos, através de uma exegese relativamente livre dos textos plotinianos, uma conexão possível entre o desejo da alma e a origem do tempo. Tentaremos mostrar que, no âmago da definição plotiniana do tempo como vida da alma, jaz um ato de desejo: o modo específico como a alma deseja e alcança o que deseja, conforme as possibilidades de sua estrutura ontológica, dá origem à experiência e à compreensão da temporalidade. Diferentemente do intelecto, que está sempre desejando e sempre alcançando, a alma experimenta um lapso entre o ato do desejo e sua consecução. Esse lapso é a mais interna intuição da temporalidade e é ele mesmo anterior à sucessão de atividades que são a vida da alma.

Joseane Prezotto (UFPR): Desexplicando a sofística, lendo Barbara Cassin

O objetivo principal de minha fala é apresentar a (re)leitura da sofística feita pela pensadora Barbara Cassin. Acompanhando a trajetória que a autora desenvolve em seu livro O Efeito Sofístico (Ed. 34, 2005), percorro a paisagem construída por seu discurso, que visa uma ressignificação da sofística atenta a ‘seus próprios termos’. Tomar-se-á por foco principalmente o ‘primeiro grande momento de constituição da sofística’: “da natureza ao discurso: o ser é um efeito do dizer”, que diz respeito à análise da chamada Primeira Sofística e, em especial, da condenação platônico-aristotélica. Meu interesse é seguir a argumentação da estudiosa, considerando os momentos em que suas reversões lhe servem de impulso para atingir “o específico da sofística”, assim atentar-se-á aos passos necessários à caracterização por ela proposta. Os esforços da autora se dão, grosso modo, em dois sentidos, buscando responder à questões formuladas no início de sua exposição: “Como escapar à tentação de repetir, com Platão e Aristóteles, que, falando em vez de pensar, os sofistas se abrigam na aparência e são, assim, apenas pseudo-filósofos? E como não concluir, com Gomperz, que eles pertencem pura e simplesmente, antes de mais nada, ou somente, à história da retórica?” (CASSIN, 2005, p. 16). Acreditando que a reabilitação dos sofistas não é suficiente, a autora, ao procurar escapar das classificações explicitadas nestas questões sem pagar tributo ao julgamento platônico-aristotélico e combatendo os rótulos derivados das tentativas de erigir a sofística como primariamente ‘anti-platônica’ (antes mesmo de Platão), reposiciona a sofística pela revaloração do ‘lógico’, do ‘discursivo’ (do ‘retórico’) e defenderá que “ao invés de assim cairmos na não-filosofia, pelo contrário, somos confrontados com uma tomada de posição tão forte acerca da ontologia e da metafísica em geral, que ela bem poderia revelar-se filosoficamente não superável.” (ibidem).

Lucio Souza Lobo: Tomás de Aquino e a doutrina da analogia

É um problema clássico com relação à aplicação dos nomes divinos o conseguir manter a possibilidade de um discurso verdadeiro acerca de Deus sem, ao mesmo tempo, estabelecer uma paridade ou equivalência dos atributos a serem empregados com aqueles usados para designar as criaturas. Tomás de Aquino, seguindo os passos de Aristóteles, resolve esse problema ao encontrar nos textos do Filósofo (como Tomás se referia a Aristóteles usualmente) um modo intermediário de predicação capaz de escapar dos escolhos de uma predicação unívoca e de uma predicação meramente equívoca. A analogia, para Tomás, é um modelo de predicação imune aos inconvenientes gerados, para esse caso, seja pela univocidade, seja pela equivocidade. Por tratar-se de um tema caro à Filosofia Medieval e, também, por sua solução ter raízes no pensamento da Antigüidade é que o proponho como objeto de reflexão sobre a recepção do pensamento filosófico da Antigüidade pela Filosofia da Idade Média.

Margaret Marchiori Bakos (PUCRS): A Egitomania na América do Sul: considerações teóricas

Neste IV Simpósio Antigos e Modernos da Universidade Federal do Paraná, evento anual do grupo de pesquisa que tem por mote “Encruzilhadas da narrativa”, julgo oportuno tecer considerações sobre a emergência de práticas de egiptomania no continente americano, que permitem entender essas transculturações, sob dois aspectos fundamentais que se juntam: 1° - o lançamentos de âncoras pelo homem moderno a um passado distante, e 2° - a criação de um refúgio para o ser humano na busca pela expressão prática de ambições, temores e valores concretos.

Patrícia da Silva Cardoso (UFPR): O devaneio clássico de Ricardo Reis

Freud trata os processos de composição dos escritores criativos como exercícios de superação de desajustes psíquicos e sociais. A escolha de Ricardo Reis pelo refúgio no universo clássico, como forma de exercer sua recusa dos valores modernos, estabelece um interessante ponto de contato com a leitura freudiana. Ao mesmo tempo, tal escolha inscreve-se no grande mapa desenhado por Fernando Pessoa que, através dela, coloca em discussão o papel da arte e do intelectual na sociedade.

Rafael Faraco Benthien: Latinistas e Helenistas em revista(s): notas sobre a especificidade francesa (1870-1918)

Tratarei aqui da morfologia e do estribo institucional dos primeiros periódicos acadêmicos franceses ligados ao estudo de Grécia e de Roma antigas (a saber, o Bulletin de Correspondance Hellénique, os Mélanges d'Archéologie et d'Histoire, a Revue des Études Grecques e a Revue des Études Anciennes). O propósito desta comunicação é esclarecer algumas linhas de força que caracterizaram a produção de conhecimento acerca do mundo antigo entre 1870 e 1918. O recorte cronológico aqui observado contempla justamente a criação e a estabilização do moderno sistema educacional francês.

Rodrigo Tadeu Gonçalves (DLLCV/UFPR): Efeito sofístico e tradução como performativo

Esta comunicação pretende avaliar a viabilidade da aproximação da proposta logológica de Barbara Cassin a uma visão de tradução como criadora de efeito-mundo. Baseando-me na discussão do efeito sofístico como produtor do chamado efeito-mundo, proponho que o tipo de discurso produzido pela atividade tradutória é capaz de mimetizar a capacidade criadora da linguagem nos termos da discussão da sofística proposta por Cassin, produzindo novas imagens de realidade capazes não somente de reproduzir textos, mas também de produzir novas cosmovisões em termos de apropriação do discurso do outro, de expansão de capacidades criativas dos gêneros literários, e de recriação e estabelecimento de novas tradições literárias. A discussão pretende basear uma visão performativo-logológica da tradução no período da formação da literatura latina a partir do movimento de tradução e recriação dos textos e gêneros gregos.

Mini-curso

Moacir Elias Santos (GEE-Maat/ CEIA/ PPGH – Universidade Federal Fluminense): Hieróglifos: princípios básicos e sua interação com a arte

A escrita egípcia é formada por um grande número de sinais que são classificados a partir de suas formas (figuras humanas, partes de edificações, ferramentas, entre outros) e de seus diferentes valores gramaticais (pictográficos, ideográficos, fonéticos e determinativos). Utilizados em profusão, os hieróglifos serviram para o registro de simples recibos a textos religiosos complexos. Já na iconografia os sinais fundem-se as imagens de forma que estas se transformam em hieróglifos podendo, inclusive, serem lidas. Neste curso, dividido em dois dias, abordaremos as origens da escrita egípcia, o seu desenvolvimento, os seus elementos gramaticais mais simples e o seu funcionamento na arte.

Comunicações

Cíntia Martins (mestranda Unesp/Araraquara, Capes): O signo “mão” em Phoenissae, de Sêneca

Este trabalho investiga os efeitos de sentido provocados pelas diversas ocorrências da palavra “mão” na primeira parte (362 versos) da tragédia Phoenissae, de Sêneca. São 17 aparições desse signo, das quais 15 estão nas falas da personagem Édipo; as outras duas estão em falas de Antígona. A mão funciona, na peça, como um dos interlocutores de Édipo, além de ser responsabilizada pelo parricídio e pelo incesto. A mão de Édipo é o único ser capaz de puni-lo por seus crimes (com a cegueira, com a surdez, com a morte). E é segurando Édipo pela mão que Antígona consegue impedi-lo de correr risco de vida durante o diálogo. A mão, nesse texto, faz-se signo de percepção, ação, força e poder.

Daiane Graziele Schiavinato (graduanda Unesp/Araraquara, Fapesp): O Orator de Cícero: Tradução e Estudos dos Fragmentos de uma Poética Clássica

O projeto que segue busca constituir um corpus, formado por contextos-ocorrência em que figure o termo numerus (“ritmo”) retirado do Orator de Cícero. A pesquisa de significados será feita pelo levantamento de ocorrências do termo indiciados pelo radical numer- (numerus¬ “ritmo”). Os fragmentos selecionados, que tratam das questão sobre natureza, definição, uso do ritmo na língua latina, serão traduzidos e discutidos. É pertinente observar que a tradução de textos clássicos amplifica o acesso à literatura da Antiguidade, e o estudo de suas definições, acerca do que se acreditava ser uma obra literária para os leitores da era clássica, pode contribuir para trazer novas perspectivas para uma poética de que se podem conhecer apenas fragmentos. Haja vista que a Antiguidade não legou aos pósteros conceitos inequívocos sobre tal matéria e, de fato, quando se considera o assunto, as obras fundamentais resumem-se a Aristóteles, Longino e Horácio.

Daniel Verginelli Galantin (graduando, UFPR, CNPQ-Pibic): A escravidão no pensamento político de Friedrich Nietzche: não somos gregos

O presente trabalho parte do resultado da pesquisa anterior onde foi concluído que a crítica da modernidade política em Nietzsche deve ser entendida em sua relação com a crítica da moral judaico-cristã. É apenas tendo essa precaução que podemos realizar um estudo dos elementos políticos de sua filosofia diminuindo as chances de cairmos em reducionismos ou acusações que podem ser desmentidas através dos próprios escritos do filósofo. Estabelecidas as intrínsecas relações entre essa moral e a política de seu tempo, o filósofo apresenta sua crítica aos ideais políticos modernos ao encontrar elementos morais guiando os mesmos. Dentre as críticas a estes ideais iremos analisar o controverso problema da escravidão nos escritos do filósofo alemão. Diretamente relacionado a esse tema, será investigado o posicionamento de Nietzsche com relação às noções de “dignidade do homem” e “dignidade do trabalho”. Iremos nos valer da análise dos textos A disputa de Homero e O estado grego, trechos de Humano, demasiado humano, Gaia ciência, Além do bem e do mal e Crepúsculo dos ídolos, para propor uma interpretação quanto ao sentido do tema da escravidão na crítica da modernidade empreendida pela filosofia nietzschiana. De acordo com a leitura que propomos no trabalho, o autor de Genealogia da Moral encontra uma perigosa generalização do estado de escravidão neste período histórico: os homens são igualados na condição de escravos e transformados em seres demasiado gregários. Semelhante ênfase no gregarismo atua de modo a excluir e suprimir qualquer possibilidade do surgimento de exceções – embora esse esforço nunca seja totalmente vitorioso. Desta forma, o filósofo alemão acaba por operar uma crítica do processo de massificação e aponta para elementos tirânicos dos ideais modernos. Assim, acreditamos que Nietzsche opera fora das fórmulas políticas modernas (democracia liberal, socialismo, comunismo e anarquismo), mas em diálogo constante com as mesmas. Com isso, o filósofo alemão apresenta questionamentos que nos parecem diretamente relacionados a problemas de nossa contemporaneidade.

Débora C. de Moraes (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC): A vertigem e o caos: Tiestes (983-97) na tradução de Castilho José

José Feliciano de Castilho traduziu excertos de autores latinos na Grinalda Ovidiana e na Grinalda da Arte de Amar (apêndices de notas culturais e exemplos literários romanos oportunos às obras de Ovídio: os Amores e A Arte de Amar, respectivamente, vertidas por seu irmão Antônio Feliciano de Castilho). Acredita-se que a diversidade de poemas e passagens trabalhadas por Castilho José pode ter contribuído para fazê-los conhecidos a autores seus contemporâneos, evocamos Machado de Assis que o cita, por exemplo. O presente trabalho é uma porção de um projeto maior que inventaria e analisa todos os textos trasladados por Castilho José, dentro dessa vasta obra nosso corpus abrange os 142 versos derradeiros de Tiestes, de Sêneca. A comunicação apresenta um estudo de uma fala da personagem Tiestes (983-97), encontrada no referido excerto, em que se descreve o caos consequente ao crime de Atreu. Serão comparados texto latino, tradução escolar e tradução de Castilho José, atentando para as escolhas e soluções utilizadas na sua tarefa tradutória.

Fábio Gerônimo Mota Diniz (Doutorando/Unesp Araraquara CNPq): Exercício tradutório: EROS DRAPETES de Mosco

A apresentação pretende-se uma breve análise de duas traduções do poeta grego helenístico Mosco (séc. II a.C.), feitas pelos poetas árcades Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765–1805) e Antônio Ribeiro dos Santos, o Elpino Duriense (1745-1818), objetivando-se um exercício de tradução. Assim, partir-se-á de uma primeira versão de serviço, acompanhada de uma versão dodecassilábica e, por fim, uma proposta métrica diferenciada, buscando uma construção métrica fluente em português que seja possível de aliar-se a uma melhor compreensão do conteúdo da poesia de Mosco.

Fernando Botton (graduando, UFPR, PET-História): Cinismos: Os filósofos chamados cachorros e o delineamento de uma tradição contra-filosófica

O presente exposto visa, de forma breve e ensaística, delimitar o nascimento de uma antiga tradição de pensamento e suas apropriações pela filosofia contemporânea. Nossa tentativa será de mostrar que a filosofia dos cínicos, mesmo renegada pelo "pensamento ocidental", possui ecos e ressonâncias nas críticas contemporâneos que questionam os valores universais da modernidade ou as generalizações da própria filosofia, nos referimos à uma corrente filosófica que começa com Nietzsche e que perpassa nossa contemporaneidade sob o signo fantasmagórico da "pós-modernidade".

Jane Kelly de Oliveira (UEPG): O coro e o desenho dos quadros cênicos nas comédias de Aristófanes

As dimensões do teatro grego do século V são impressionantes. Alguns estudiosos afirmam que a orquestra media 100 metros de diâmetro e que o theatron podia abrigar até 10 mil pessoas. É de se esperar que, diante de tais proporções, os dramaturgos, no momento da composição, previssem mecanismos que facilitem a recepção das obras e direcionem o olhar da audiência para fatos importantes e necessários para a compreensão da peça e minimizem os possíveis problemas de dispersão naturais em um grande espaço. Na comédia de Aristófanes, tudo indica que o coro cumpre com frequência este papel, como pretendemos mostrar nesta comunicação por meio de cenas selecionadas de algumas das onze comédias do autor.

Joana Junqueira Borges (graduanda Unesp/Araraquara, Fapesp): Castilho José e a tradução dos ‘bejos’ de Catulo
A canção V de Catulo, que será apresentada na comunicação, faz parte do trabalho desenvolvido na Iniciação Científica que contou com o apoio da FAPESP. O poema consta do corpus de traduções catulianas encontradas na Grinalda Ovidiana, como são chamados os comentários em que José Feliciano de Castilho (1810-1879), literato luso-brasileiro, faz anotação dos Amores de Ovídio na tradução de seu irmão Antônio Feliciano de Castilho. Nesse apêndice, Castilho José , na sua análise dos poemas de Ovídio, introduz traduções de outros autores latinos. Entre os poetas traduzidos estão Propércio, Virgílio, Lucano, entre outros, além de Catulo e Marcial que constituiram o corpus do trabalho de Iniciação científica. Apresentaremos na comunicação a metodologia adotada para a análise dos poemas latinos traduzidos por Castilho José, bem como comentários que nos levam à compreensão de sua contribuição para os estudos tradutórios de textos greco-latinos para o português.

Leandro Dorval Cardoso (mestrando/UFPR – Bolsista Capes/REUNI): Possibilidades de Tradução dos Metros Plautinos do Amphitruo para o Português

O estabelecimento da Comédia Latina deu-se através da tradução das Comédias Gregas pertencentes aos seus três períodos: a Comédia Antiga, a Comédia Média e, fundamentalmente, a Comédia Nova. Nesse processo de tradução, os comediógrafos latinos fizeram importantes modificações estruturais, como, dentre outras, a exclusão da participação do coro, uma maior exploração da potencialidade cômica dos seus enredos típicos, a utilização de diferentes originais gregos para a composição de uma única peça em latim e um considerável aumento da variabilidade métrica na composição das peças através da sua divisão em cantica – partes líricas que eram declamadas ou cantadas pelos atores com o acompanhamento de instrumentos musicais – e diuerbia – as partes faladas da peça. No que diz respeito à variabilidade métrica das comédias latinas, o autor que mais se destaca é Tito Mácio Plauto, conhecido, já na própria Antiguidade Clássica, pelos seus numeri innumeri, a sua grande virtuosidade no trabalho com as possibilidades substitutivas entre sílabas longas e breves, característica que fundamenta a tradição métrica das línguas clássicas. Nesta comunicação, o que se busca é a apresentação de diferentes possibilidades de tradução dos metros encontrados na peça Amphitruo, de Plauto, para o português brasileiro, com o intuito de fundamentar uma tradução da peça pautada pela proposta de manter e destacar, mesmo que minimamente, essa variabilidade métrica plautina.

Luiza dos Santos Souza (graduanda UFPR): A dupla tradução de Tibulo, I, X por um curioso obscuro

O presente trabalho tem por finalidade apresentar, analisar e discutir duas traduções do décimo poema do livro primeiro de Tibulo, feitas por um Curioso Obscuro (D. António Aires de Gouveia, 1828-1916) e publicadas por ele na mesma obra, uma de 1851 e outra de 1912, aproximadamente. Assim, será feita uma reflexão acerca das escolhas tradutórias do Curioso Obscuro nas duas versões e sobre o que pode ter levado aos diferentes resultados.

Marcelo Bourscheid (PG – UFPR): A perfomance como um novo paradigma na recepção da tragédia grega

A partir das últimas décadas do século XX, pode-se perceber nos Estudos Clássicos o aumento do interesse por questões relacionadas à performance. Nesta perspectiva, a Mousikê, entendida como a união entre música, palavra e dança, constitui-se em um novo paradigma interpretativo da poesia grega em suas variadas vertentes, inclusive a dramática. Nesta comunicação, apresentarei uma breve análise do panorama das relações entre os estudos da performance e os estudos da tragédia grega, mostrando como a contextualização performativa apresentada nas reflexões de teóricos como Oliver Taplin, Bruno Gentili, Simon Goldhill, Peter Arnott, David Wiles, Graham Ley, dentre outros, tem alterado a recepção das obras da tragédia clássica ateniense.

Mariana Bravo de Oliveira (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC): A Naturalis Historia como fonte para a leitura/tradução de textos da literatura latina

Considerando que a tradução de qualquer setor da realidade em linguagem é o ponto essencial para que as informações desse setor, assim codificadas, sejam introduzidas na memória coletiva e passem a fazer parte do feixe de sistemas semióticos que é a cultura, tomam-se a codificação e a memória como processos essenciais na formação cultural de uma sociedade. Ao ler um texto em língua estrangeira, pode-se perceber como essa codificação, ou o sistema de signos do idioma, fortemente ligado a uma memória coletiva e a uma forma específica de organização da cultura, dificulta a compreensão da mensagem ali empenhada. Para que se dê um maior grau de compreensão, buscam-se, com frequência, informações sobre o contexto cultural em que o texto foi produzido e sobre a forma utilizada pelos autores nativos para a organização e valor específico dos signos naquela literatura. Quando se trata de uma língua como a latina, a distância temporal que nos separa de seus falantes naturais e de sua cultura dificulta a apreensão do universo de significação que habitava a memória coletiva dessa sociedade. Partindo dessa concepção, torna-se de fundamental importância a leitura (sc. tradução) de textos latinos, tendo como fonte outros textos latinos, para que a compreensão dessa cultura se dê da forma como os próprios romanos a entendiam e organizavam. Para tanto, serão apresentadas traduções de trechos da Naturalis Historia, de Plínio, o velho, que podem servir como fonte para uma melhor intelecção de textos pertencentes à literatura da Roma Antiga.

Mariana Peixoto Pizano (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC): Linguística, poética e cultura: estudos do Texto latino (Virgílio, VIII Égloga)

Esta pesquisa está ligada ao Grupo LINCEU – Visões da Antiguidade clássica e tem como objetivo trabalhar com textos de autores autênticos da literatura latina. O corpus escolhido para este estudo foi a VIII égloga de Virgílio, que traz como tema principal a magia. A partir de então, analisamos dados da estrutura linguística do texto, produzimos uma tradução de estudo, acompanhada de notas de referência, e descrevemos alguns dos recursos expressivos empregados no poema. Desse modo, procuramos estudar o texto latino de maneira a compreender suas dimensões linguística, poética e cultural, analisando a construção do enunciado como um todo expressivo. Com o desenvolvimento deste trabalho, buscamos certa preparação teórica inicial para importantes questões que envolvem o estudo de um texto antigo.

Sandro Aramis Richter Gomes (mestrando, UFPR): As relações entre antigos e modernos na economia política e na historiografia do Brasil oitocentista: os textos de Antonio Vieira dos santos e José da Silva Lisboa

Esta comunicação objetiva investigar as formas de apropriação de autores da Antiguidade Romana nos textos históricos de Antonio Vieira dos Santos (1784-1854) e de economia política de José da Silva Lisboa (1756-1835). Para uma abordagem sobre a produção textual de Silva Lisboa, problematizam-se aqui os textos Observações sobre o comércio franco no Brasil (1808), Observações sobre a franqueza da indústria e estabelecimentos de fábricas no Brasil (1810) e Da liberdade do trabalho (publicado postumamente em 1851). A defesa do ordenamento econômico para uma sociedade colonial e a delimitação hierarquizada de atribuições sociais no âmbito da produção econômica foram elaboradas por Silva Lisboa tanto sob os fundamentos da economia política, bem como a partir de exemplaridades encontradas nos textos da Antiguidade. Acerca do discurso historiográfico de Vieira dos Santos são abordadas a Memória Histórica da Cidade de Paranaguá e do seu Município (1850) e a Memória Histórica da Vila de Morretes e do Porto Real (1851). Desses dois textos, pois, problematiza-se a inserção de referências aos autores da Antiguidade no âmbito das justificações e instrumentalizações da escrita histórica. Cabe, pois, assinalar que a mobilização de autores de língua latina em Vieira dos Santos inseriu-se no paradigma, vigente na prosa histórica do Brasil do século XIX, de narrar o passado e projetar o futuro, a partir do qual se afirmava a busca de exemplaridades históricas na composição, notadamente, de modelos de organização social. Dessa maneira, a presente investigação assinala para a apropriação de textos latinos no Brasil do século XIX enquanto subsídio na produção de padrões de ordenamento social.

Thalita Morato Ferreira (graduanda Unesp/Araraquara): Poética e Figuratividade: Semiótica aplicada a textos clássicos latinos - V Égloga de Virgílio

Nesta pesquisa, procuramos, a partir da leitura e tradução de um dos dez poemas pastoris de Virgílio, a “V Égloga”, apreender a língua latina em sua modalidade escrita. Assim, o trabalho propõe uma tradução literal desse córpus, em que se reconheça a estrutura morfossintática e semântica do texto latino, levando em conta os problemas de organização do enunciado. Este trabalho preliminar da tradução se faz acompanhar ainda de um levantamento e estudo das necessárias referências de cultura que ocorrem no texto. Além disso, com vistas à dimensão enunciativa e figurativa do poema, procuramos analisar o modo como os recursos da figuratividade poética são ali engendrados, valendo-nos, para esta etapa da pesquisa, do arcabouço teórico oferecido pela Linguística, a Poética e a Semiótica Literária.

Vivian Carneiro Leão Simões (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC): A arte e o engenho do carpe diem e sua expressão em língua portuguesa

O poema é uma tessitura sonora formada pela convergência de numerosos fatores de ordem fônica, da qual emergem significados, e estes são vazados em linguagem poética constituída de significantes polivalentes e de símbolos multifacetados, por isso críticos como Emil Staiger e Zélia de Almeida Cardoso dizem que a poesia é intraduzível. Pode-se criar um objeto estético novo, nunca reproduzir o original numa nova língua. O poema original e o traduzido corresponderão a resultados diferentes; “A tradução é a procura de um equivalente, e não de um substituto”, como diz Brodsky. Trata-se, então, de buscar equivalentes numa nova língua, equivalentes que irão reproduzir, ou tentar ao máximo reproduzir o maior número de efeitos que a leitura do poema original suscita. O presente trabalho procurará tratar dessa questão comparando a tradução de Augusto de Campos com o original latino da ode I, 11 de Horácio.

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