Resumos (por ordem alfabética
de nomes)
Conferências
e Palestras
Mini-curso
Comunicações
Conferências
e Palestras
Alessandro
Rolim de Moura (UFPR): Recepção de Estácio
e Lucano no De Gestis Mendi de Saa
O poema latino sobre
os feitos de Mem de Sá, atribuído pela
maior parte dos especialistas a José de Anchieta,
é uma obra única no contexto do Renascimento
em sua versão ibero-americana. Há no
texto uma confluência de perspectivas diversas:
o engajamento de fundo jesuítico, a observação
sensível do Novo Mundo, o discurso épico
clássico. Os estudos sobre a presença
da epopeia antiga no De gestis, todavia, restringem-se
quase só à influência de Vergílio.
Admitindo que este último é uma matriz
inegável, minha pesquisa investiga também
os ecos de Lucano e Estácio no poema. Parece-me
que o épico moderno faz uso desses dois autores
latinos para alimentar os aspectos pessimistas de
sua narrativa romano-brasileira. Discuto essa recepção
da Guerra civil e da Tebaida sobretudo através
de dois motivos importantes que se manifestam nas
obras em questão. Designo esses motivos com
as expressões latinas belli amor e immanes
tigres.
Anamaria
Filizola (UFPR): Sócrates e Alcibíades
personagens de Agustina Bessa-Luís
Publicado em 1992,
Ordens menores, da ficcionista portuguesa Agustina
Bessa-Luís (1922), é um romance peculiar
em que Sócrates e Alcibíades são
convocados como assunto de conversas e discussões
entre o professor Natan e seu pupilo Luís Matias
do Barral. No entanto, mestre e aluno, em meados do
século XX, no norte de Portugal, espelham a
dupla grega, ao mesmo tempo que o professor Natan
é um personagem construído com inúmeros
biografemas do escritor José Régio (1901-1969).
Esta comunicação aborda a recepção
e consequente figuração desses personagens
do mundo clássico grego pela autora portuguesa.
Bernardo
Brandão (UFPR): A imagem do filósofo
na comédia e na filosofia grega
A imagem do filósofo
grego, tal como nós a conhecemos, é
fruto de um intenso debate intelectual na Atenas dos
séculos V e IV que culmina nos diálogos
platônicos. Platão, interessado em defender
a filosofia contra as acusações de impiedade
e as críticas da comédia (especialmente
Aristófanes, mas também Êupolis,
Amípsias e outros) , bem como diferenciá-la
da sofística, usou o gênero dos diálogos
socráticos para definir literariamente o filósofo
e o seu ofício, realizando não apenas
uma discussão teórica, mas criando um
modelo de vida intelectual: o do homem que fundamenta
sua vida na razão e, abrindo-se para as realidades
que estão além do mundo sensível,
cuida de sua alma e guia seus concidadãos nessa
direção. Essa comunicação
pretende analisar o projeto platônico da criação
do modelo do filósofo a partir de seu diálogo
com a comédia ateniense do século V
e, em especial, com as Nuvens de Aristófanes.
Brunno
Vinicius Gonçalves Vieira (Unesp – Araraquara/apoio
FAPESP): A Farsália de José
Feliciano de Castilho (1864): altiloquia e robustez
de uma tradução esquecida
A tradução
de José Feliciano de Castilho (1810-1879) dos
cantos I, VI, VII e parte do X da Pharsalia, de Lucano,
foi publicada em jornais do Brasil e de Portugal em1864.
Desde então, jaz esquecida nos acervos da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, Instituto Histórico
Geográfico Brasileiro e do Real Gabinete Português
de Leitura. O projeto tradutório de José
Feliciano de Castilho mereceu o louvor de literatos
brasileiros do porte de Joaquim Manuel de Macedo,
Machado de Assis e Sotero dos Reis, mas também
de portugueses como Pinheiro Chagas, Antônio
José Viale e Antônio Feliciano de Castilho.
Tal ilustre recepção já mostra
a importância da investigação
e disponibilização desse texto, não
apenas pelos valores intrínsecos da obra latina
e da versão portuguesa, mas também para
o estudo do ambiente literário dessa profícua
época da literatura lusófona. Esta conferência
pretende oferecer dados do contexto histórico
e literário em que a tradução
veio a lume, bem como apresentar questões de
caráter filológico e tradutológico
provenientes da edição e comentário
– ainda em progresso – dessa versão
de Lucano.
Fernando
Nicolazzi (UFOP): O tempo do Sertão, o sertão
no tempo: antigos, modernos e selvagens
O intuito desta conferência
é apresentar uma leitura do livro de Euclides
da Cunha, Os sertões, considerando a forma
pela qual a diferença é nele representada.
Parte-se da idéia de que a obra é construída
segundo uma noção de distância
de tempos que separa o tempo do sertão da temporalidade
daquilo que o autor define como civilização.
Nesse sentido, parte das estratégias discursivas
utilizadas na feitura do livro trabalha segundo uma
comparação entre antigos, modernos selvagens,
de forma que a figura da alteridade se torne ali assimilável.
Guilherme
Gontijo Flores: Épica, tragédia e lírica
nas Argonáuticas de Apolônio
de Rodes
Pretendo comentar a
cena do encontro entre Jasão e Medeia, no livro
III, para avaliar como o cruzamento de gêneros
pode ser explicitado numa trama alusiva que exige
do leitor o conhecimento de obras de outros gêneros
(como a lírica de Píndaro e Safo e a
tragédia de Eurípides) para além
das fórmulas homéricas. Nesse choque
genérico desvela-se pouco a pouco uma construção
de desleitura irônica.
Irene Cristina
Boschieiro
José
Baracat Júnior (UFRS): Um fundamento para o
tempo: uma resposta plotiniana a uma objeção
de Heidegger e Borges
A reflexão
de Plotino sobre a eternidade e o tempo é uma
amostra notável de seu método exegético.
Partindo da árida fórmula platônica
- que define o tempo como imagem móvel da eternidade
-, e sem abandonar esse âmbito conceitual, Plotino
chega a conclusões próprias, originais
e profundas. Sustentando a relação entre
um arquétipo e uma imagem, ele transforma o
tempo em vida da alma, imagem da eternidade que é
vida do intelecto. Plotino e Platão, contudo,
compartilham a convicção de que nossa
compreensão do tempo só é possível
se tomamos a eternidade como ponto de partida. Heidegger
e, na sua esteira, o escritor Jorge Luiz Borges, denunciam
o que lhes parece a fragilidade da concepção
platônico-plotiniana do tempo: não se
pode estabelecer, como fundamento de um fenômeno
que nos é próximo, uma idéia
que não tem significado concreto; portanto,
como não temos experiência da eternidade,
ela não pode ser o fundamento do tempo, que,
este sim, nos é familiar, próprio à
nossa existência mortal e finita. A intenção
deste trabalho é buscar, na obra de Plotino,
um fundamento para a compreensão do tempo (ou
da temporalidade) que seja intrínseco à
alma e que possa responder às objeções
de Heidegger e Borges. Para isso, proporemos, através
de uma exegese relativamente livre dos textos plotinianos,
uma conexão possível entre o desejo
da alma e a origem do tempo. Tentaremos mostrar que,
no âmago da definição plotiniana
do tempo como vida da alma, jaz um ato de desejo:
o modo específico como a alma deseja e alcança
o que deseja, conforme as possibilidades de sua estrutura
ontológica, dá origem à experiência
e à compreensão da temporalidade. Diferentemente
do intelecto, que está sempre desejando e sempre
alcançando, a alma experimenta um lapso entre
o ato do desejo e sua consecução. Esse
lapso é a mais interna intuição
da temporalidade e é ele mesmo anterior à
sucessão de atividades que são a vida
da alma.
Joseane
Prezotto (UFPR): Desexplicando a sofística,
lendo Barbara Cassin
O objetivo principal de minha
fala é apresentar a (re)leitura da sofística
feita pela pensadora Barbara Cassin. Acompanhando
a trajetória que a autora desenvolve em seu
livro O Efeito Sofístico (Ed. 34, 2005), percorro
a paisagem construída por seu discurso, que
visa uma ressignificação da sofística
atenta a ‘seus próprios termos’.
Tomar-se-á por foco principalmente o ‘primeiro
grande momento de constituição da sofística’:
“da natureza ao discurso: o ser é um
efeito do dizer”, que diz respeito à
análise da chamada Primeira Sofística
e, em especial, da condenação platônico-aristotélica.
Meu interesse é seguir a argumentação
da estudiosa, considerando os momentos em que suas
reversões lhe servem de impulso para atingir
“o específico da sofística”,
assim atentar-se-á aos passos necessários
à caracterização por ela proposta.
Os esforços da autora se dão, grosso
modo, em dois sentidos, buscando responder à
questões formuladas no início de sua
exposição: “Como escapar à
tentação de repetir, com Platão
e Aristóteles, que, falando em vez de pensar,
os sofistas se abrigam na aparência e são,
assim, apenas pseudo-filósofos? E como não
concluir, com Gomperz, que eles pertencem pura e simplesmente,
antes de mais nada, ou somente, à história
da retórica?” (CASSIN, 2005, p. 16).
Acreditando que a reabilitação dos sofistas
não é suficiente, a autora, ao procurar
escapar das classificações explicitadas
nestas questões sem pagar tributo ao julgamento
platônico-aristotélico e combatendo os
rótulos derivados das tentativas de erigir
a sofística como primariamente ‘anti-platônica’
(antes mesmo de Platão), reposiciona a sofística
pela revaloração do ‘lógico’,
do ‘discursivo’ (do ‘retórico’)
e defenderá que “ao invés de assim
cairmos na não-filosofia, pelo contrário,
somos confrontados com uma tomada de posição
tão forte acerca da ontologia e da metafísica
em geral, que ela bem poderia revelar-se filosoficamente
não superável.” (ibidem).
Lucio
Souza Lobo: Tomás de Aquino e a doutrina da
analogia
É um problema
clássico com relação à
aplicação dos nomes divinos o conseguir
manter a possibilidade de um discurso verdadeiro acerca
de Deus sem, ao mesmo tempo, estabelecer uma paridade
ou equivalência dos atributos a serem empregados
com aqueles usados para designar as criaturas. Tomás
de Aquino, seguindo os passos de Aristóteles,
resolve esse problema ao encontrar nos textos do Filósofo
(como Tomás se referia a Aristóteles
usualmente) um modo intermediário de predicação
capaz de escapar dos escolhos de uma predicação
unívoca e de uma predicação meramente
equívoca. A analogia, para Tomás, é
um modelo de predicação imune aos inconvenientes
gerados, para esse caso, seja pela univocidade, seja
pela equivocidade. Por tratar-se de um tema caro à
Filosofia Medieval e, também, por sua solução
ter raízes no pensamento da Antigüidade
é que o proponho como objeto de reflexão
sobre a recepção do pensamento filosófico
da Antigüidade pela Filosofia da Idade Média.
Margaret
Marchiori Bakos (PUCRS): A Egitomania na América
do Sul: considerações teóricas
Neste IV Simpósio Antigos
e Modernos da Universidade Federal do Paraná,
evento anual do grupo de pesquisa que tem por mote
“Encruzilhadas da narrativa”, julgo oportuno
tecer considerações sobre a emergência
de práticas de egiptomania no continente americano,
que permitem entender essas transculturações,
sob dois aspectos fundamentais que se juntam: 1°
- o lançamentos de âncoras pelo homem
moderno a um passado distante, e 2° - a criação
de um refúgio para o ser humano na busca pela
expressão prática de ambições,
temores e valores concretos.
Patrícia
da Silva Cardoso (UFPR): O devaneio clássico
de Ricardo Reis
Freud trata os processos
de composição dos escritores criativos
como exercícios de superação
de desajustes psíquicos e sociais. A escolha
de Ricardo Reis pelo refúgio no universo clássico,
como forma de exercer sua recusa dos valores modernos,
estabelece um interessante ponto de contato com a
leitura freudiana. Ao mesmo tempo, tal escolha inscreve-se
no grande mapa desenhado por Fernando Pessoa que,
através dela, coloca em discussão o
papel da arte e do intelectual na sociedade.
Rafael
Faraco Benthien: Latinistas e Helenistas em revista(s):
notas sobre a especificidade francesa (1870-1918)
Tratarei aqui da morfologia
e do estribo institucional dos primeiros periódicos
acadêmicos franceses ligados ao estudo de Grécia
e de Roma antigas (a saber, o Bulletin de Correspondance
Hellénique, os Mélanges d'Archéologie
et d'Histoire, a Revue des Études Grecques
e a Revue des Études Anciennes). O propósito
desta comunicação é esclarecer
algumas linhas de força que caracterizaram
a produção de conhecimento acerca do
mundo antigo entre 1870 e 1918. O recorte cronológico
aqui observado contempla justamente a criação
e a estabilização do moderno sistema
educacional francês.
Rodrigo
Tadeu Gonçalves (DLLCV/UFPR): Efeito sofístico
e tradução como performativo
Esta comunicação
pretende avaliar a viabilidade da aproximação
da proposta logológica de Barbara Cassin a
uma visão de tradução como criadora
de efeito-mundo. Baseando-me na discussão do
efeito sofístico como produtor do chamado efeito-mundo,
proponho que o tipo de discurso produzido pela atividade
tradutória é capaz de mimetizar a capacidade
criadora da linguagem nos termos da discussão
da sofística proposta por Cassin, produzindo
novas imagens de realidade capazes não somente
de reproduzir textos, mas também de produzir
novas cosmovisões em termos de apropriação
do discurso do outro, de expansão de capacidades
criativas dos gêneros literários, e de
recriação e estabelecimento de novas
tradições literárias. A discussão
pretende basear uma visão performativo-logológica
da tradução no período da formação
da literatura latina a partir do movimento de tradução
e recriação dos textos e gêneros
gregos.
Mini-curso
Moacir
Elias Santos (GEE-Maat/ CEIA/ PPGH – Universidade
Federal Fluminense): Hieróglifos: princípios
básicos e sua interação com a
arte
A escrita egípcia
é formada por um grande número de sinais
que são classificados a partir de suas formas
(figuras humanas, partes de edificações,
ferramentas, entre outros) e de seus diferentes valores
gramaticais (pictográficos, ideográficos,
fonéticos e determinativos). Utilizados em
profusão, os hieróglifos serviram para
o registro de simples recibos a textos religiosos
complexos. Já na iconografia os sinais fundem-se
as imagens de forma que estas se transformam em hieróglifos
podendo, inclusive, serem lidas. Neste curso, dividido
em dois dias, abordaremos as origens da escrita egípcia,
o seu desenvolvimento, os seus elementos gramaticais
mais simples e o seu funcionamento na arte.
Comunicações
Cíntia
Martins (mestranda Unesp/Araraquara, Capes): O signo
“mão” em Phoenissae, de
Sêneca
Este trabalho investiga
os efeitos de sentido provocados pelas diversas ocorrências
da palavra “mão” na primeira parte
(362 versos) da tragédia Phoenissae, de Sêneca.
São 17 aparições desse signo,
das quais 15 estão nas falas da personagem
Édipo; as outras duas estão em falas
de Antígona. A mão funciona, na peça,
como um dos interlocutores de Édipo, além
de ser responsabilizada pelo parricídio e pelo
incesto. A mão de Édipo é o único
ser capaz de puni-lo por seus crimes (com a cegueira,
com a surdez, com a morte). E é segurando Édipo
pela mão que Antígona consegue impedi-lo
de correr risco de vida durante o diálogo.
A mão, nesse texto, faz-se signo de percepção,
ação, força e poder.
Daiane
Graziele Schiavinato (graduanda Unesp/Araraquara,
Fapesp): O Orator de Cícero: Tradução
e Estudos dos Fragmentos de uma Poética Clássica
O projeto que segue
busca constituir um corpus, formado por contextos-ocorrência
em que figure o termo numerus (“ritmo”)
retirado do Orator de Cícero. A pesquisa de
significados será feita pelo levantamento de
ocorrências do termo indiciados pelo radical
numer- (numerus¬ “ritmo”). Os fragmentos
selecionados, que tratam das questão sobre
natureza, definição, uso do ritmo na
língua latina, serão traduzidos e discutidos.
É pertinente observar que a tradução
de textos clássicos amplifica o acesso à
literatura da Antiguidade, e o estudo de suas definições,
acerca do que se acreditava ser uma obra literária
para os leitores da era clássica, pode contribuir
para trazer novas perspectivas para uma poética
de que se podem conhecer apenas fragmentos. Haja vista
que a Antiguidade não legou aos pósteros
conceitos inequívocos sobre tal matéria
e, de fato, quando se considera o assunto, as obras
fundamentais resumem-se a Aristóteles, Longino
e Horácio.
Daniel
Verginelli Galantin (graduando, UFPR, CNPQ-Pibic):
A escravidão no pensamento político
de Friedrich Nietzche: não somos gregos
O presente trabalho
parte do resultado da pesquisa anterior onde foi concluído
que a crítica da modernidade política
em Nietzsche deve ser entendida em sua relação
com a crítica da moral judaico-cristã.
É apenas tendo essa precaução
que podemos realizar um estudo dos elementos políticos
de sua filosofia diminuindo as chances de cairmos
em reducionismos ou acusações que podem
ser desmentidas através dos próprios
escritos do filósofo. Estabelecidas as intrínsecas
relações entre essa moral e a política
de seu tempo, o filósofo apresenta sua crítica
aos ideais políticos modernos ao encontrar
elementos morais guiando os mesmos. Dentre as críticas
a estes ideais iremos analisar o controverso problema
da escravidão nos escritos do filósofo
alemão. Diretamente relacionado a esse tema,
será investigado o posicionamento de Nietzsche
com relação às noções
de “dignidade do homem” e “dignidade
do trabalho”. Iremos nos valer da análise
dos textos A disputa de Homero e O estado grego, trechos
de Humano, demasiado humano, Gaia ciência, Além
do bem e do mal e Crepúsculo dos ídolos,
para propor uma interpretação quanto
ao sentido do tema da escravidão na crítica
da modernidade empreendida pela filosofia nietzschiana.
De acordo com a leitura que propomos no trabalho,
o autor de Genealogia da Moral encontra uma perigosa
generalização do estado de escravidão
neste período histórico: os homens são
igualados na condição de escravos e
transformados em seres demasiado gregários.
Semelhante ênfase no gregarismo atua de modo
a excluir e suprimir qualquer possibilidade do surgimento
de exceções – embora esse esforço
nunca seja totalmente vitorioso. Desta forma, o filósofo
alemão acaba por operar uma crítica
do processo de massificação e aponta
para elementos tirânicos dos ideais modernos.
Assim, acreditamos que Nietzsche opera fora das fórmulas
políticas modernas (democracia liberal, socialismo,
comunismo e anarquismo), mas em diálogo constante
com as mesmas. Com isso, o filósofo alemão
apresenta questionamentos que nos parecem diretamente
relacionados a problemas de nossa contemporaneidade.
Débora
C. de Moraes (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC):
A vertigem e o caos: Tiestes (983-97) na tradução
de Castilho José
José Feliciano
de Castilho traduziu excertos de autores latinos na
Grinalda Ovidiana e na Grinalda da Arte de Amar (apêndices
de notas culturais e exemplos literários romanos
oportunos às obras de Ovídio: os Amores
e A Arte de Amar, respectivamente, vertidas por seu
irmão Antônio Feliciano de Castilho).
Acredita-se que a diversidade de poemas e passagens
trabalhadas por Castilho José pode ter contribuído
para fazê-los conhecidos a autores seus contemporâneos,
evocamos Machado de Assis que o cita, por exemplo.
O presente trabalho é uma porção
de um projeto maior que inventaria e analisa todos
os textos trasladados por Castilho José, dentro
dessa vasta obra nosso corpus abrange os 142 versos
derradeiros de Tiestes, de Sêneca. A comunicação
apresenta um estudo de uma fala da personagem Tiestes
(983-97), encontrada no referido excerto, em que se
descreve o caos consequente ao crime de Atreu. Serão
comparados texto latino, tradução escolar
e tradução de Castilho José,
atentando para as escolhas e soluções
utilizadas na sua tarefa tradutória.
Fábio
Gerônimo Mota Diniz (Doutorando/Unesp Araraquara
CNPq): Exercício tradutório: EROS
DRAPETES de Mosco
A apresentação
pretende-se uma breve análise de duas traduções
do poeta grego helenístico Mosco (séc.
II a.C.), feitas pelos poetas árcades Manuel
Maria Barbosa du Bocage (1765–1805) e Antônio
Ribeiro dos Santos, o Elpino Duriense (1745-1818),
objetivando-se um exercício de tradução.
Assim, partir-se-á de uma primeira versão
de serviço, acompanhada de uma versão
dodecassilábica e, por fim, uma proposta métrica
diferenciada, buscando uma construção
métrica fluente em português que seja
possível de aliar-se a uma melhor compreensão
do conteúdo da poesia de Mosco.
Fernando
Botton (graduando, UFPR, PET-História): Cinismos:
Os filósofos chamados cachorros e o delineamento
de uma tradição contra-filosófica
O presente exposto
visa, de forma breve e ensaística, delimitar
o nascimento de uma antiga tradição
de pensamento e suas apropriações pela
filosofia contemporânea. Nossa tentativa será
de mostrar que a filosofia dos cínicos, mesmo
renegada pelo "pensamento ocidental", possui
ecos e ressonâncias nas críticas contemporâneos
que questionam os valores universais da modernidade
ou as generalizações da própria
filosofia, nos referimos à uma corrente filosófica
que começa com Nietzsche e que perpassa nossa
contemporaneidade sob o signo fantasmagórico
da "pós-modernidade".
Jane
Kelly de Oliveira (UEPG): O coro e o desenho dos quadros
cênicos nas comédias de Aristófanes
As dimensões
do teatro grego do século V são impressionantes.
Alguns estudiosos afirmam que a orquestra media 100
metros de diâmetro e que o theatron podia abrigar
até 10 mil pessoas. É de se esperar
que, diante de tais proporções, os dramaturgos,
no momento da composição, previssem
mecanismos que facilitem a recepção
das obras e direcionem o olhar da audiência
para fatos importantes e necessários para a
compreensão da peça e minimizem os possíveis
problemas de dispersão naturais em um grande
espaço. Na comédia de Aristófanes,
tudo indica que o coro cumpre com frequência
este papel, como pretendemos mostrar nesta comunicação
por meio de cenas selecionadas de algumas das onze
comédias do autor.
Joana
Junqueira Borges (graduanda Unesp/Araraquara, Fapesp):
Castilho José e a tradução dos
‘bejos’ de Catulo
A canção V de Catulo, que será
apresentada na comunicação, faz parte
do trabalho desenvolvido na Iniciação
Científica que contou com o apoio da FAPESP.
O poema consta do corpus de traduções
catulianas encontradas na Grinalda Ovidiana, como
são chamados os comentários em que José
Feliciano de Castilho (1810-1879), literato luso-brasileiro,
faz anotação dos Amores de Ovídio
na tradução de seu irmão Antônio
Feliciano de Castilho. Nesse apêndice, Castilho
José , na sua análise dos poemas de
Ovídio, introduz traduções de
outros autores latinos. Entre os poetas traduzidos
estão Propércio, Virgílio, Lucano,
entre outros, além de Catulo e Marcial que
constituiram o corpus do trabalho de Iniciação
científica. Apresentaremos na comunicação
a metodologia adotada para a análise dos poemas
latinos traduzidos por Castilho José, bem como
comentários que nos levam à compreensão
de sua contribuição para os estudos
tradutórios de textos greco-latinos para o
português.
Leandro
Dorval Cardoso (mestrando/UFPR – Bolsista Capes/REUNI):
Possibilidades de Tradução dos Metros
Plautinos do Amphitruo para o Português
O estabelecimento
da Comédia Latina deu-se através da
tradução das Comédias Gregas
pertencentes aos seus três períodos:
a Comédia Antiga, a Comédia Média
e, fundamentalmente, a Comédia Nova. Nesse
processo de tradução, os comediógrafos
latinos fizeram importantes modificações
estruturais, como, dentre outras, a exclusão
da participação do coro, uma maior exploração
da potencialidade cômica dos seus enredos típicos,
a utilização de diferentes originais
gregos para a composição de uma única
peça em latim e um considerável aumento
da variabilidade métrica na composição
das peças através da sua divisão
em cantica – partes líricas que eram
declamadas ou cantadas pelos atores com o acompanhamento
de instrumentos musicais – e diuerbia –
as partes faladas da peça. No que diz respeito
à variabilidade métrica das comédias
latinas, o autor que mais se destaca é Tito
Mácio Plauto, conhecido, já na própria
Antiguidade Clássica, pelos seus numeri innumeri,
a sua grande virtuosidade no trabalho com as possibilidades
substitutivas entre sílabas longas e breves,
característica que fundamenta a tradição
métrica das línguas clássicas.
Nesta comunicação, o que se busca é
a apresentação de diferentes possibilidades
de tradução dos metros encontrados na
peça Amphitruo, de Plauto, para o português
brasileiro, com o intuito de fundamentar uma tradução
da peça pautada pela proposta de manter e destacar,
mesmo que minimamente, essa variabilidade métrica
plautina.
Luiza
dos Santos Souza (graduanda UFPR): A dupla tradução
de Tibulo, I, X por um curioso obscuro
O presente trabalho
tem por finalidade apresentar, analisar e discutir
duas traduções do décimo poema
do livro primeiro de Tibulo, feitas por um Curioso
Obscuro (D. António Aires de Gouveia, 1828-1916)
e publicadas por ele na mesma obra, uma de 1851 e
outra de 1912, aproximadamente. Assim, será
feita uma reflexão acerca das escolhas tradutórias
do Curioso Obscuro nas duas versões e sobre
o que pode ter levado aos diferentes resultados.
Marcelo
Bourscheid (PG – UFPR): A perfomance como um
novo paradigma na recepção da tragédia
grega
A partir das últimas
décadas do século XX, pode-se perceber
nos Estudos Clássicos o aumento do interesse
por questões relacionadas à performance.
Nesta perspectiva, a Mousikê, entendida como
a união entre música, palavra e dança,
constitui-se em um novo paradigma interpretativo da
poesia grega em suas variadas vertentes, inclusive
a dramática. Nesta comunicação,
apresentarei uma breve análise do panorama
das relações entre os estudos da performance
e os estudos da tragédia grega, mostrando como
a contextualização performativa apresentada
nas reflexões de teóricos como Oliver
Taplin, Bruno Gentili, Simon Goldhill, Peter Arnott,
David Wiles, Graham Ley, dentre outros, tem alterado
a recepção das obras da tragédia
clássica ateniense.
Mariana
Bravo de Oliveira (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC):
A Naturalis Historia como fonte para a leitura/tradução
de textos da literatura latina
Considerando que a
tradução de qualquer setor da realidade
em linguagem é o ponto essencial para que as
informações desse setor, assim codificadas,
sejam introduzidas na memória coletiva e passem
a fazer parte do feixe de sistemas semióticos
que é a cultura, tomam-se a codificação
e a memória como processos essenciais na formação
cultural de uma sociedade. Ao ler um texto em língua
estrangeira, pode-se perceber como essa codificação,
ou o sistema de signos do idioma, fortemente ligado
a uma memória coletiva e a uma forma específica
de organização da cultura, dificulta
a compreensão da mensagem ali empenhada. Para
que se dê um maior grau de compreensão,
buscam-se, com frequência, informações
sobre o contexto cultural em que o texto foi produzido
e sobre a forma utilizada pelos autores nativos para
a organização e valor específico
dos signos naquela literatura. Quando se trata de
uma língua como a latina, a distância
temporal que nos separa de seus falantes naturais
e de sua cultura dificulta a apreensão do universo
de significação que habitava a memória
coletiva dessa sociedade. Partindo dessa concepção,
torna-se de fundamental importância a leitura
(sc. tradução) de textos latinos, tendo
como fonte outros textos latinos, para que a compreensão
dessa cultura se dê da forma como os próprios
romanos a entendiam e organizavam. Para tanto, serão
apresentadas traduções de trechos da
Naturalis Historia, de Plínio, o velho, que
podem servir como fonte para uma melhor intelecção
de textos pertencentes à literatura da Roma
Antiga.
Mariana
Peixoto Pizano (graduanda Unesp/Araraquara, CNPq/PIBIC):
Linguística, poética e cultura: estudos
do Texto latino (Virgílio, VIII Égloga)
Esta pesquisa está
ligada ao Grupo LINCEU – Visões da Antiguidade
clássica e tem como objetivo trabalhar com
textos de autores autênticos da literatura latina.
O corpus escolhido para este estudo foi a VIII égloga
de Virgílio, que traz como tema principal a
magia. A partir de então, analisamos dados
da estrutura linguística do texto, produzimos
uma tradução de estudo, acompanhada
de notas de referência, e descrevemos alguns
dos recursos expressivos empregados no poema. Desse
modo, procuramos estudar o texto latino de maneira
a compreender suas dimensões linguística,
poética e cultural, analisando a construção
do enunciado como um todo expressivo. Com o desenvolvimento
deste trabalho, buscamos certa preparação
teórica inicial para importantes questões
que envolvem o estudo de um texto antigo.
Sandro
Aramis Richter Gomes (mestrando, UFPR): As relações
entre antigos e modernos na economia política
e na historiografia do Brasil oitocentista: os textos
de Antonio Vieira dos santos e José da Silva
Lisboa
Esta comunicação
objetiva investigar as formas de apropriação
de autores da Antiguidade Romana nos textos históricos
de Antonio Vieira dos Santos (1784-1854) e de economia
política de José da Silva Lisboa (1756-1835).
Para uma abordagem sobre a produção
textual de Silva Lisboa, problematizam-se aqui os
textos Observações sobre o comércio
franco no Brasil (1808), Observações
sobre a franqueza da indústria e estabelecimentos
de fábricas no Brasil (1810) e Da liberdade
do trabalho (publicado postumamente em 1851). A defesa
do ordenamento econômico para uma sociedade
colonial e a delimitação hierarquizada
de atribuições sociais no âmbito
da produção econômica foram elaboradas
por Silva Lisboa tanto sob os fundamentos da economia
política, bem como a partir de exemplaridades
encontradas nos textos da Antiguidade. Acerca do discurso
historiográfico de Vieira dos Santos são
abordadas a Memória Histórica da Cidade
de Paranaguá e do seu Município (1850)
e a Memória Histórica da Vila de Morretes
e do Porto Real (1851). Desses dois textos, pois,
problematiza-se a inserção de referências
aos autores da Antiguidade no âmbito das justificações
e instrumentalizações da escrita histórica.
Cabe, pois, assinalar que a mobilização
de autores de língua latina em Vieira dos Santos
inseriu-se no paradigma, vigente na prosa histórica
do Brasil do século XIX, de narrar o passado
e projetar o futuro, a partir do qual se afirmava
a busca de exemplaridades históricas na composição,
notadamente, de modelos de organização
social. Dessa maneira, a presente investigação
assinala para a apropriação de textos
latinos no Brasil do século XIX enquanto subsídio
na produção de padrões de ordenamento
social.
Thalita
Morato Ferreira (graduanda Unesp/Araraquara): Poética
e Figuratividade: Semiótica aplicada a textos
clássicos latinos - V Égloga
de Virgílio
Nesta pesquisa, procuramos,
a partir da leitura e tradução de um
dos dez poemas pastoris de Virgílio, a “V
Égloga”, apreender a língua latina
em sua modalidade escrita. Assim, o trabalho propõe
uma tradução literal desse córpus,
em que se reconheça a estrutura morfossintática
e semântica do texto latino, levando em conta
os problemas de organização do enunciado.
Este trabalho preliminar da tradução
se faz acompanhar ainda de um levantamento e estudo
das necessárias referências de cultura
que ocorrem no texto. Além disso, com vistas
à dimensão enunciativa e figurativa
do poema, procuramos analisar o modo como os recursos
da figuratividade poética são ali engendrados,
valendo-nos, para esta etapa da pesquisa, do arcabouço
teórico oferecido pela Linguística,
a Poética e a Semiótica Literária.
Vivian
Carneiro Leão Simões (graduanda Unesp/Araraquara,
CNPq/PIBIC): A arte e o engenho do carpe diem e sua
expressão em língua portuguesa
O poema é uma
tessitura sonora formada pela convergência de
numerosos fatores de ordem fônica, da qual emergem
significados, e estes são vazados em linguagem
poética constituída de significantes
polivalentes e de símbolos multifacetados,
por isso críticos como Emil Staiger e Zélia
de Almeida Cardoso dizem que a poesia é intraduzível.
Pode-se criar um objeto estético novo, nunca
reproduzir o original numa nova língua. O poema
original e o traduzido corresponderão a resultados
diferentes; “A tradução é
a procura de um equivalente, e não de um substituto”,
como diz Brodsky. Trata-se, então, de buscar
equivalentes numa nova língua, equivalentes
que irão reproduzir, ou tentar ao máximo
reproduzir o maior número de efeitos que a
leitura do poema original suscita. O presente trabalho
procurará tratar dessa questão comparando
a tradução de Augusto de Campos com
o original latino da ode I, 11 de Horácio.